Limpeza urbana e resíduos têm de dar salto tecnológico
Cristiana Cardoso, da Luságua, enfatizou a falta de inovação no sector dos resíduos e limpeza urbana, ontem no painel dedicado aos Desafios do Sector Privado do III Encontro Nacional de Limpeza Urbana.
Considerando que o setor dos resíduos apresenta uma intensidade das despesas em I&D empresarial reduzida - cerca de 0,6%, ou seja, menos de metade da média nacional, e que “não existe ainda uma dinâmica suficiente de cooperação entre os agentes do setor dos resíduos”, a responsável acredita que a solução passará por “incrementar cada vez mais tecnologia e inovação ao setor com o objetivo de otimizar os processos e direcionar a mão de obra para outras tarefas”. Neste ponto, é esperado que a chamada “bazuca” possa dar o impulso necessário implementar inovação e tecnologia no sector dos resíduos.
Outro dos desafios apontados pela responsável da Luságua é a recolha dos biorresíduos, considerando que os contratos de prestação de serviços estão “desadequados” e em risco de desequilíbrios financeiros quer pela quebra das quantidades de resíduos indiferenciados, quer pelo custo extra da recolha de biorresíduos.
Henrique Jacinto, da Ovo Solutions, referiu que os municípios e os gestores de resíduos necessitam de soluções económicas e escaláveis para aplicar os incentivos certos de modo a incrementar significativamente as taxas de reciclagem dos vários materiais, sobretudo tendo em conta as metas que são cada vez mais exigentes.
Para a Ovo Solutions, a solução está na atribuição de benefícios através do sistema de incentivos para o cidadão. A ideia criou o produto que a empresa já comercializa e que pode ser aplicado aos mais variados casos, nomeadamente no comércio local, na mobilidade urbana e nos serviços municipais.
Entre os desafios, Henrique Jacinto sublinhou a necessidade de rever a legislação, uma vez que as análises aos cadernos de encargos têm como critério o preço mais baixo. “Isso deve-se aos critérios muito rígidos da legislação no que respeita à contratação pelo sector público. Mas penso que é difícil fazer essa alteração rapidamente e continuará um problema que afecta as empresas, mas também as entidades públicas”.
José Alfredo, da Certoma, reforçou esta ideia: “O mais baixo preço é a forma mais simples de um técnico analisar um procedimento e muitos técnicos de municípios não têm nem tiveram conhecimentos para fazer este tipo de análise. Portanto, acho que esse critério vai perdurar.”
O responsável da Certoma também lembrou que desde a pandemia que “o mau serviço do IMT piorou, cujos processos de atribuição e legalização de matrículas, homologação e outros, demoram tanto que há entidades com equipamentos parados há meses, sem poderem circular e com contratos de milhares de euros em causa, porque os processos estão atrasados.”
A propósito do Plano de Recuperação e Resiliência, as entidades mostraram-se expectantes com o que poderá ser atribuído ao sector dos resíduos e limpeza urbana. Mas António Bento, da Solim, dado a falta de informação sobre o plano não teve pejo em dizer: “Tenho receio que o dinheiro se esvaia e que não se consiga dar este salto tecnológico no sector”.