Os irmãos da Hidromaster: Dos robots do saneamento aos camiões a hidrogénio
Não alcançaram ainda a fama dos irmãos Coen, é certo, no entanto, os irmãos Varela Pereira trabalham igualmente lado a lado, todos os dias, com um único fito comum: responder às necessidades dos seus clientes de forma inovadora e eficiente. Filipa, é responsável pela área financeira, João pela área comercial. Juntos criaram em 2003 a Hidromaster, empresa de serviços e de equipamentos da área dos resíduos e da limpeza urbana.
Filipa e João, partilham o apelido do pai José Alfredo Pereira, CEO da Certoma, empresa onde os dois irmãos iniciaram a sua atividade, logo depois de terminarem a faculdade. “Decidimos criar uma empresa nova, na perspetiva de que seria uma empresa dos dois, completamente independente da Certoma”, começa por explicar Filipa Pereira. Porquê? “Percebemos que havia um novo potencial, um mercado em ascensão, que não tinha muito a ver com a atividade da Certoma e quisemos agarrar a oportunidade”, explica o irmão João. Assim foi.
Assistia-se no mercado à comercialização de equipamentos de inspeção vídeo para condutas de saneamento, uma área relativamente nova em Portugal, para a qual não havia então grande oferta. “Tínhamos muito pedidos para fornecimento do serviço, pois boa parte dos clientes não queria comprar o equipamento. Fomos ganhando know how nesta área, que na realidade se trata de comandar à distância, em viaturas-estúdio, pequenos robots”, observa João Varela Pereira.
Surgiu assim em 2003, a Hidromaster, com o foco neste nicho de mercado, à qual foi depois agregando outras valências associadas, nomeadamente a limpeza das condutas de saneamento e a reabilitação de condutas sem abertura de vala. “Fizemos a integração dos serviços. Foi algo que surgiu de forma muito natural, porque em muitas condutas, por todo o país, há a necessidade de se fazerem pequenos trabalhos de manutenção, reparações, reabilitações”, explica Filipa Varela Pereira.
Na sequência da ampliação da oferta de serviços, novas solicitações surgiram também, como o pedido de testes de estanquicidade de condutas, feito em conformidade com a EN1610. Também para este pedido, a Hidromaster respondeu positivamente, apresentando ao mercado uma solução computadorizada e com referenciação GPS.
Assim, o negócio que nasceu na Mealhada, cresceu, diversificando os seus clientes entre municípios, empresas municipais, empreiteiros e outros prestadores de serviços.
Veículos inovadores nos resíduos
Em 2016, surge a área dos resíduos na Hidromaster. À data fomos abordados pela FAUN, porque tinha de fornecer 4 camiões RSU ao município de Cascais e precisavam de um parceiro português”, recorda João, que já andava a estudar o mercado nacional e as suas necessidades.
Criou-se assim o novo departamento na Hidromaster, que ficou segmentada com os serviços na área do saneamento e o fornecimento de equipamentos na área dos resíduos.
Em 2017, a Hidromaster catapultou graças ao Fundo Ambiental, cujos programas de apoio específicos para veículos de recolha de resíduos possibilitaram robustecer várias frotas municipais. Mas foi 2018 que firmou a Hidromaster como player nacional do mercado dos resíduos e da limpeza urbana com o evento de apresentação pública da empresa no Grande Hotel do Luso a operadores privados, públicos, imprensa e outros stakeholders. Também foi o ano de lançamento de um sistema inovador de recolha de resíduos em Portugal: as papeleiras inteligentes WASTEMASTER, com compactação interna alimentado a energia solar. A Hidromaster foi a primeira empresa a fornecer estes equipamentos em Portugal.
Em 2019, nas vésperas da pandemia, a Hidromaster acrescentou ainda à sua linha de produtos a ALKE, veículos utilitários N1, totalmente elétricos, com uma multiplicidade de aplicações que vão da simples carga/descarga de mercadorias à recolha de resíduos urbanos e industriais.
Crescimento exponencial na faturação
Nas contas da Hidromaster, passados quase 20 anos sobre a sua existência e apenas 5 dos quais na área dos resíduos, é este último segmento que mais representatividade tem na faturação da empresa. E o crescimento tem sido exponencial, sobretudo com as vendas de veículos a entidades públicas.
Em 2020, o primeiro confinamento abrandou um pouco o negócio, mas logo depois recuperou. “É uma área que foi resguardada, que não pode parar porque é fundamental para a manutenção da qualidade de vida nas cidades”, comenta João Varela Pereira. Nesse ano, a faturação da Hidromaster registou 3 milhões de euros, um valor que deverá estar na ordem de grandeza da faturação em 2021.
Se considerarmos as necessidades nacionais quer no sector do saneamento, quer no dos resíduos, as perspetivas de crescimento da Hidromaster são muito promissoras. “Há um sector que gostaríamos de explorar, e para o qual já estamos também a desenvolver vários pilotos, que é o das fugas de água com sistemas de deteção remota”, diz Filipa.
Já no fornecimento de equipamentos para o sector dos resíduos, a inovação está, para já, nos combustíveis alternativos como o hidrogénio e o elétrico. “Apresentámos no III Encontro Nacional de Limpeza Urbana, em Braga, o primeiro camião RSU a hidrogénio em Portugal, e várias entidades já manifestaram interesse neste equipamento”, salienta o irmão que aponta outra preocupação: “Há muita falta de materiais no mercado internacional e isso causa dificuldade nas marcas em colocar os chassis nas fábricas e isso pode ter impacto. Pode ter um efeito em cadeia, em todo o mundo. E vai afetar os nossos prazos de entrega, mesmo para clientes com projetos cofinanciados”.
Para os irmãos Varela Pereira o grande desafio é a afirmação no mercado. “Fomos pioneiros nas papeleiras inteligentes, mas a verdade é que fomos os últimos players a chegar ao mercado dos resíduos. E nos serviços temos muitos clientes, mas queremos melhores contratos. Porquê? Procuramos ter bons técnicos, bons equipamentos e bons operadores. Isso é fundamental para nós”, sumariza João Varela.