Waste To Me: a empresa de sucesso que nasceu da crise
Com apenas quatro anos, a Waste To Me assume hoje uma posição inquestionável no setor dos resíduos nacional. Nascida em plena pandemia, a empresa dos irmãos Tomé destacou-se por trazer ao mercado produtos com tecnologia agregada, mas também por apostar naquilo que os seus gestores consideram o mais importante: uma relação de confiança e transparência com as pessoas, sejam clientes e parceiros, sejam colaboradores.
Transformar uma crise numa oportunidade é uma máxima bem conhecida dos portugueses e, ainda não há muito tempo, a pandemia de Covid-19 mostrou como de um momento difícil é possível fazer algo que mude a nossa vida para melhor. O duro ano de 2020 foi repleto de exemplos de empreendedorismo, porém, são poucos aqueles que, quatro anos depois, podem afirmar-se como uma história de sucesso. A Waste To Me, empresa dos irmãos Pedro e Venâncio Tomé, é um desses exemplos.
Com quatro anos feitos em maio passado, a Waste To Me assume-se, hoje, como “uma empresa ao mesmo nível de outras que estão no mercado há muitos mais anos”, quer em termos de oferta de produtos, quer em termos de reconhecimento e imagem. Os quatro milhões de euros de volume de faturação alcançados em 2023 dizem isso mesmo de uma empresa que conta atualmente com dez colaboradores e representa em Portugal marcas mundialmente conceituadas como a Sanimobel, a Plastik Gogić, emz, c-trace, Pel ou a Vermican.
Este crescimento extraordinário só foi possível “com muito trabalho”, conta Pedro Tomé, a quem, em 2020, se colocou o dilema. “A pandemia trouxe a uma pessoa que ficou desempregada a oportunidade de pensar. Tive muito tempo para refletir sobre o projeto e como o iria implementar”, recorda.
A experiência profissional anterior também ajudou: “Trabalhei cinco anos como comercial noutra empresa do setor [dos resíduos] e, quando saí, só tinha três hipóteses – ou ia para a concorrência, ou mudava de área, ou aplicava tudo o que tinha sido o meu trabalho até ali num projeto meu.”
O apoio incondicional do irmão Venâncio, que “vinha do futebol e tinha zero ligações a este mercado”, não deixou margem para dúvidas. “Com 500 euros e uma ida ao cartório”, criou-se a Waste To Me, graceja o gestor, acrescentando, num tom mais sério, que se tratou de “um salto de fé”.
“Municípios e munícipes, todos beneficiam”
Rodeado de “pessoas de confiança” e com a experiência adquirida anteriormente, Pedro Tomé quis apostar em algo que, segundo o próprio, não existia na altura em Portugal – “uma empresa que agregasse o produto à tecnologia e entregasse ao cliente uma solução chave-na-mão”. Um dos primeiros exemplos dessa abordagem foi um projeto feito em 2021 com a Gesamb, que consistiu na instalação de compostores comunitários com controlo de acesso. “As pessoas têm um cartão, um balde e há um compostor comunitário instalado no jardim. Os cidadãos usam o cartão para aceder ao local e depositam os resíduos orgânicos no compostor comunitário”, conta.
O posicionamento de inovação rapidamente se tornou o “grande forte” da empresa da margem sul do Tejo, que, ao longo destes quatro anos, foi cimentando o seu lugar no mercado português. Atualmente trabalham com municípios e entidades em todo o território nacional e, quando questionado sobre a oferta, a primeira resposta de Pedro Tomé é dada entre risos – “tínhamos de estar aqui muito tempo, pois nós temos muita coisa. Vendemos contentores de duas e quatro rodas, soluções de compostagem doméstica e comunitária, soluções de controlo de acessos, sistemas RFID em viaturas, ecopontos móveis e contentores de carga bilateral, papeleiras inteligentes, entre outros.”
Como o projeto da Gesamb, há muitos outros no portefólio da Waste To Me em que a inovação se destaca – caso do fornecimento a Matosinhos de 220 contentores em fibra de vidro dual-lock com duas aberturas, geridas por uma antena, e apenas um controlo de acesso –, ou também o simbolismo do cliente, como o projeto recente de fornecimento de contentores de carga bilateral para a cidade de Lisboa.
Para o gestor, a inclusão de novas tecnologias em soluções para resíduos urbanos faz tanto sentido quanto o facto de “todos nós termos hoje telemóveis, e tem benefícios quer para os municípios, quer para os munícipes”.
“Se o município estiver embutido do espírito de reciclagem, pode ser ressarcido com algum benefício pela utilização deste sistema, aumentar os seus quantitativos e ficar mais próximo de cumprir as metas de reciclagem; e o munícipe sente-se envolvido num sistema que é fácil de usar e que funciona -- tem o seu cartão pessoal, vai ao contentor, abre-o com o seu cartão, deposita o resíduo e sabe que o saco depositado àquela hora foi o seu. O município deixa de ter os contentores abertos para a população em geral e consegue, assim, restringir ou limitar os acessos e pode fazer o rastreio do que foi lá colocado ou de quem utilizou aqueles contentores para futura sensibilização, caso haja alguma contaminação.”
Este tipo de soluções pode ainda facilitar “o cumprimento de obrigatoriedades que se avizinham, como é o caso dos sistemas PAYT (pay-as-you-throw), que terão de ser feitos com base em dados estatísticos que se podem retirar destas tecnologias”, explica Pedro Tomé.
“Dependendo das quantidades e dos locais onde serão implementadas”, estas são soluções mais caras, admite, mas para as quais as entidades podem obter financiamento, já que “trazem valor acrescentado” aos projetos. “É, no entanto, importante que estes projetos sejam bem implementados e bem analisados. Não vale de nada colocar um contentor com controlo de acesso e, depois, ninguém olhar para os dados que daí resultam”, alerta.
ALU, “uma plataforma de visibilidade e networking”
A Waste To Me prepara-se para obter a certificação de Sistemas de Gestão da Qualidade 9001 e o crescimento da empresa dita que, em breve, seja necessário mudar de espaço ou ampliar as instalações. Aquando da sua criação, bastaram poucos meses para a empresa passar de uma loja de 30 metros quadrados (m2) em Paio Pires para um pavilhão com 500 m2, com um logradouro com mais de 1500 m2.
Também por essa altura outro marco merece destaque no trajeto da iniciativa – “Em 2021, não tínhamos ainda feito um ano de existência e decidimos fazer um investimento para estarmos presentes numa feira em Braga, que foi o grande palco para a nossa apresentação ao mercado, o III Encontro Nacional de Limpeza Urbana (ENLU)”, relata Pedro Tomé, contando que, desde então, têm participado em todas as feiras nacionais relevantes para o setor.
Depois deste primeiro contacto, fazer parte da Associação Limpeza Urbana – Parceria para Cidades + Inteligentes e Sustentáveis (ALU) foi a consequência natural e uma decisão “fácil”. Para os irmãos Tomé, fazer parte da ALU é uma forma de trazer visibilidade à Waste To Me e tem-se mostrado como o “canal ideal para divulgar a marca, os produtos e a imagem [da empresa]”, bem como uma “plataforma de networking de excelência”.
“Fazer diferente”
Na história da Waste To Me, há, no entanto, mais do que empreendedorismo e inovação. Há também esforço, empenho e garra. “Quando estamos num projeto nosso e nos vemos obrigados a nos dedicarmos para ou aquilo funcionar ou, então, ficarmos sem saber o que fazer, aplicas todas as tuas forças, todo o teu empenho e toda a tua garra nesse projeto”, recorda o CEO.
Sem esquecer o parceiro que, no início, foi “importante para o crescimento da empresa e para lhe trazer mais confiança, Pedro Tomé rejeitou “a gestão à antiga” e quis adotar um modelo “diferente” para a sua empresa, quer ao nível da relação com o cliente, quer ao nível da governança interna. Para fidelizar o cliente, a receita passa por valorizar a relação com as pessoas, construir confiança e ter uma comunicação muito direta e transparente, principalmente no que diz respeito a cumprimento dos prazos.
Já no que toca à gestão interna, o objetivo é dar a oportunidade aos colaboradores de participarem nas decisões da empresa, abandonando a abordagem “o chefe é que manda”. O responsável explica porquê: “A Waste To Me pode ser o Venâncio e o Pedro, mas, sem os outros colaboradores, nós não somos nada.” E, com isto, o CEO soma à história da empresa da margem Sul do Tejo mais um elemento diferenciador: “Somos todos parte de uma família e trabalhamos todos em prol do mesmo objetivo, e isso, sim, dá-me um orgulho muito grande.”