Produção global de resíduos e custos de gestão em tendência crescente. Futuro depende de “redução drástica”, alerta ONU
Se nada for feito, até 2050, a produção de resíduos urbanos deverá aumentar em dois terços e os custos da sua gestão deverão praticamente duplicar. A previsão consta do mais recente relatório do Programa das Nações Unidas (ONU) para o Meio Ambiente (UNEP, na sigla em inglês) para o setor, apresentado ontem e que lança um alerta claro: só a “redução drástica” na produção de resíduos pode garantir um “futuro habitável e acessível”.
Segundo o relatório, desenvolvido em parceria com a International Solid Waste Association (ISWA) e que compõe o Global Waste Management Outlook (GWMO) 2024, mantendo a trajetória atual, a produção de resíduos sólidos urbanos deverá aumentar de 2,3 mil milhões de toneladas (2023) para 3,8 mil milhões de toneladas em meados do século.
Com o título “Beyond an age of waste: Turning rubbish into a resource”, o documento estimou os custos diretos anuais da gestão dos resíduos em 252 mil milhões de dólares (cerca de 232 mil milhões de euros) em 2020. Quando acrescidos os custos indiretos relacionados com a poluição, os efeitos negativos na saúde e a crise climática, resultantes de más práticas de gestão de resíduos, a fatura ascende aos 361 mil milhões de dólares/ano (332 mil milhões de euros). Até 2050, este valor poderá duplicar, ultrapassando os 640 mil milhões de dólares (cerca de 590 mil milhões de euros).
Inverter a tendência? Economia circular pode ajudar
Contrariar esta tendência exige uma “redução drástica” na produção de resíduos e que o mundo adote “urgentemente” uma “abordagem zero resíduos”, dizem os autores do documento.
Segundo o relatório, que usou análises do ciclo de vida para explorar os impactos de três diferentes cenários na abordagem aos resíduos, incluindo um business-as-usual, um com adoção de medidas intermédias e outro de compromisso pleno com uma política zero resíduos e sociedades de economia circular, a implementação de medidas de prevenção da produção de resíduos e de gestão poderá limitar os custos líquidos anuais a 270,2 mil milhões de dólares em 2050.
Por sua vez, a adoção de um modelo de economia circular, no qual a produção de resíduos e o crescimento económico estejam dissociados pode, de facto, resultar em ganhos líquidos totais de 108,5 mil milhões de dólares/ano (perto de 100 mil milhões de euros). Medidas de prevenção, práticas empresariais sustentáveis e a boa gestão em toda a cadeia de valor no setor de resíduos serão fundamentais, indica o documento.
“A produção de resíduos está intrinsecamente ligada ao PIB e muitas economias em rápido crescimento estão a enfrentar o fardo de um rápido crescimento de resíduos”, afirma Inger Andersen, diretor executivo do UNEP. “Ao identificar medidas viáveis para um futuro com mais recursos e ao enfatizar o papel central dos decisores nos setores público e privado para avançar no sentido de zero resíduos, este relatório pode apoiar os governos que não querem perder oportunidades de criar sociedades mais sustentáveis e de garantir um planeta habitável para as gerações futuras.”
“O GWMO 2024 é um guia e um apelo à ação para catalisar esforços coletivos que apoiem soluções ambiciosas e transformadores, reverter os impactos adversos das práticas de gestão de resíduos atuais e proporcionar benefícios claros a todos os seres que vivem neste planeta”, referiu, por sua vez, o presidente da ISWA, Carlos Fialho, acrescentando que “estas ações são cruciais para acelerar a concretização da Agenda 2030”.
O relatório do UNEP é a mais recente atualização do panorama global do setor dos resíduos e dos seus custos desde 2018, e pode ser consultado na íntegra aqui.
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