A recolha seletiva dos biorresíudos esteve em destaque no painel “Biorresíduos: Realidade Aumentada”, promovido no último dia do III Encontro Nacional de Limpeza Urbana. Municípios e entidades gestoras estão a centrar esforços no sentido de tornar este desafio uma realidade.
Na Câmara Municipal de Arganil, o desafio dos biorresíduos não é resolvido só com a compostagem, mesmo tratando-se um território de baixa densidade. Quem o disse foi Érica Castanheira, vereadora do Ambiente da autarquia de Arganil, partilhando o resultado de um estudo prévio que diz que o concelho não é económica e tecnicamente viável: “Nenhuma freguesia (de Arganil) tem capacidade para fazer recolha seletiva de biorresíduos”.
Em marcha, está também o projeto de distribuição de compostores domésticos e comunitários por toda a comunidade: “Independentemente de termos recolha seletiva de biorresíduos, uma parte da solução também passaria sempre pela compostagem”, já disponível para 15% dos utilizadores. Mesmo com os esforços centrados nos desafios que os biorresiduos acarretam, Érica Castanheira partilhou algumas das dificuldades: “Se, neste estudo, estamos vistos como um município que não é viável para a recolha, porque motivo incutem a necessidade de fazer uma estratégia para a recolha?”, questionou. E olhando às linhas de financiamento como, por exemplo, o POSEUR, o município nunca conseguiu ter apoio: “Nem para a contentorização, nem para recolha”, atenta. Neste caso, limitaram-se às “linhas de financiamento para a compostagem”, lamentou.
Por seu turno, a autarquia sadina apresentou “Setúbal composto tem mais valor”, a campanha de recolha de biorresíduos do município sadino. Carla Guerreiro, vereadora do Ambiente na Câmara Municipal de Setúbal referiu que “enquanto não houver disponibilidade para compensar os utilizadores pelo comportamento que têm”, haverá sempre recusas na prática de ações que promovam a recolha de biorresíduos. O estudo preliminar para o desenvolvimento dos sistema de recolha em Setúbal refere que só haverá rentabilidade se a mesma for ampliada a todo o território: “Caso contrário, não vamos ter capacidade para suportar os custos da operação dos sistemas, tendo em conta que a tarifa será zero”. O município defende que “as pessoas não devem ser penalizadas por fazer mais esta separação e por estarem a fazer aquilo que lhes pedimos com todas as questões económicas e ambientais” que colocam.
Do Planalto Beirão, Luís Macedo deu conta do planeamento do sistema de biorresíduos que está a ser perspetivado para os 19 municípios da região. Segundo o responsável, o potencial total de biorresíduos produzido em 2019 ascendeu a quase 50 mil toneladas. Ao longo da intervenção, Luís Macedo partilhou ainda algumas preocupações: “Com que modelo tarifário, a região vai abordar este desafio de implementar uma trajetória tarifária que assegure o equilíbrio económico-financeiro da entidade gestora, a acessibilidade económica dos utilizadores dos serviços de gestão de resíduos urbanos e que promova um comportamento que seja compatível com o sucesso da estratégia”. Como desafios, está ainda a adesão, colocando-se diversas dúvidas sobre se os consumidores, nomeadamente, se “vão separar com a qualidade e quantidade que pretendemos” ou “qual é o impacto da reciclagem na origem”.
No que diz respeito às entidades gestoras, Rui Silva, administrador da Valorminho e da Resulima, destacou o investimento que está a ser feito unidade em Paradela, Barcelos: “Vai permitir ter a capacidade de tratamento necessária para poder assegurar o tratamento dos biorresiduos que nos vão chegar”.
Dentro do Plano de Ação do Plano Estratégico para os Resíduos Sólidos Urbanos (PAPERSU), está assim previsto a construção de um tratamento mecânico simples na Valorminho, em Valença, e um tratamento mecânico e biológico em Paradela: “Foi pensado na partilha de infraestruturas do tratamento biológico na Resulima que os biorresíduos provenientes do indiferenciado e da recolha seletiva de orgânicos da Valorminho e da Resulima irão ser processados na nova unidade”.
“Para sermos eficientes na operação desta unidade, é importante perceber as quantidades que vamos ter e os recursos que temos de alocar ao tratamento destes materiais”, observou. A qualidade dos biorresíduos que serão entregues podem também “comprometer o tratamento”. Por isso, a “relação simbiótica” entre a recolha dos biorresíduos, o tratamento, os sistemas de tratamento e os municípios é fundamental: “Só trabalhando de forma muito integrada, com sensibilização e informação, é que isto poderá ter sucesso: o caminho que temos de fazer para incrementar a recolha seletiva de orgânicos e o seu tratamento é muito grande”, afinca.
Na Tratolixo, a estratégia passa pela boa relação entre o sistema em Alta e o sistema em Baixa que está consignada na CAPER. Os aspetos das cozinhas (domésticas e não domésticas), os sacos verdes, a recolha dos mesmos no contentor indiferenciado, o investimento no sistema em Alta, a comunicação e sensibilização ambiental, fazem parte do plano de ação da empresa para os biorresíduos.
Na recolha seletiva de biorresíduos, o processo centra-se nos restos que serão colocados em sacos verdes: “As pessoas depositam o saco no contentor do indiferenciado, a Câmara vai recolher o contentor e, depois, vai depositar na Tratolixo”, descreve João Teixeira, Administrador da Tratolixo. Quanto às vantagens, “não é preciso novo contentor, novo carro de recolha, poupa-se dinheiro nas lavagens e nos salários porque não é preciso novas equipas”, declara.
De acordo com os cálculos previstos, João Teixeira refere que o sistema de sacos verdes vai permitir poupar 2.250.000 kg de CO2 por ano; 300 mil metros cúbicos de água por ano; e 850 mil litros de gasóleo.
Leia a notícia completa aqui: https://www.ambientemagazine.com/biorresiduos-o-que-dizem-os-municipios-e-as-entidades-gestoras/