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Cada mensagem de alerta de algas nas praias não é apenas uma dor de cabeça para os decisores locais. É mais dinheiro para resolver problemas, menos para investir nas pessoas.
LUÍS ALMEIDA CAPÃO, Presidente da Direção da ALU
O alerta chega com uma notificação de telemóvel. Uma fotografia mostra a praia irreconhecível, coberta por um manto castanho de algas malcheirosas. “Esta manhã, estava assim outra vez”, lê-se. Decisores locais recebem, com cada vez mais frequência, mensagens como esta. A “culpa” é da Rugulopterix okamurae, uma alga originária da costa asiática que está a causar dores de cabeça a cidades da costa portuguesa.
Esta alga invasora surge com temperaturas mais altas da água, cresce nas rochas, de onde se solta com as marés agitadas, e acumula-se no areal. O fenómeno tem piorado, em particular no Algarve, mas atinge também praias mais a norte, como as de Cascais. Os prejuízos são elevados, com custos diretos imediatos e outros indiretos, a médio prazo, que é preciso evitar.
Comecemos pelos diretos. Quando a mensagem chega, a resposta do município tem de ser imediata: acionar as operações de limpeza, perceber a melhor forma de remover aquele manto (e como chegar até ele), para onde o encaminhar e limitar os constrangimentos para a população local e para os turistas, antes que a curiosidade dê lugar à irritação causada pela interdição das praias e pelo incómodo das operações. Não havendo ainda soluções 100% eficazes, há que considerar investimentos adicionais em equipamentos e meios que deem a resposta célere.
Depois, há os custos indiretos de uma experiência estragada. O que faz o turista que, chegando ao seu destino, se depara com praias cobertas de algas que podem levar dias a limpar? Volta a escolher aquele local ou recomenda-o a alguém? É pouco provável.
Lidamos com um fenómeno imprevisível que coloca determinados territórios à mercê da natureza, em desvantagem face aos que não podem ser assolados pelo tema. Não nos esqueçamos de que estes municípios têm a seu cargo algumas das principais atrações turísticas nacionais: as praias. Num país em que a atividade turística contribui com 33,8 mil milhões de euros para o PIB, ter praias fechadas é um risco demasiado alto para o futuro.
Controlamos apenas a nossa capacidade de resposta. Resolver rapidamente significa despesas não previstas que saem diretamente dos orçamentos municipais e que podem superar as centenas de milhar de euros ao ano. Só em 2023, Lagos gastou 200 mil euros em intervenções nas suas praias para lidar com as invasoras.
É aqui que estes municípios devem ser apoiados. A criação de um instrumento financeiro de emergência que apoie os concelhos afetados na sua capacidade de resposta e recuperação, como acontece para os agricultores em caso de fenómenos climáticos extremos, permitirá que estes continuem a ser o postal turístico que tanto nos promove.
Cada mensagem de alerta de algas nas praias não é apenas uma dor de cabeça para os decisores locais. É mais dinheiro para resolver problemas, menos para investir nas pessoas. A Associação Limpeza Urbana (ALU) quer encontrar soluções para o tema, que encerra também oportunidades para avanço científico, valorização económica destas algas e criação de uma indústria nacional inovadora. Virados para o mar, os portugueses aprendem a tirar partido desta proximidade. Estamos certos de que conseguiremos fazer o mesmo com este novo desafio.
Artigo publicado in Expresso, 12 dezembro 2024